Mudando preceitos, Not Me têm impacto direto na indústria. Por muito tempo, acreditava-se que as adaptações Boys Love fossem produzidas apenas para o entretenimento, sem se apoiar em questões sociais ou políticas.
O que de fato aconteceu e acontece muito, contudo, de uns anos para cá, é possível notar um amadurecimento por parte da indústria de live actions, principalmente, se olharmos para a Tailândia, que dentre todos os países inseridos no mercado BL, é certamente, o mais comprometido com temáticas de importância notória para o público consumidor.
No mapa dos países asiáticos que moldaram a indústria de adaptações Boys Love, a Tailândia ocupa uma posição dianteira. O contexto histórico, político e social, ajudaram o país a conquistar uma margem isolada na experimentação de obras em que a história não se limita apenas a dramas colegiais ou romances que muitas vezes são desenvolvidos de maneira superficial.
Sabe-se que embora haja muitas limitações para a comunidade LGBTQIA+, a representação midiática em filmes e séries de temática queer, passou a ser algo comum no mercado interno tailandês a partir da metade da década de 2000, assim como em outras regiões da Ásia.
Antes de ser esse gigantesco mercado comandado pelas adaptações BLs, outras obras tailandesas já chamavam a atenção do público pela proposta de tratar questões como aceitação e orgulho LGBT, como é o caso do emblemático filme, Beautiful Boxer, de 2004, um verdadeiro divisor de águas na história do cinema queer em toda Ásia, e que apesar das limitações técnicas por ser uma produção marcada pela ação do tempo, segue sendo uma produção fundamental para entender como a Tailândia tornou-se uma referência mundial sobre a especialidade em cirurgias de redesignação sexual.
Isso sem contar com a margem aberta pelo longa a partir da sua recepção nacional e internacional, servindo de exemplo para que as produtoras buscassem investir em filmes e séries com essa temática, além é claro, do impacto na vida dos milhares de espectadores.
Antes de Not Me, outro marco feito na história das produções tailandesas que deu espaço aos BLs atuais com tom político e social, é o filme Fathers de 2016, longa dirigido por Palatpol Mingpornpichit e que narra a história de um casal gay lutando pelo direito do casamento legal, isso ao mesmo tempo, em que tentam criar um filho.
Durante o filme, somos imersos num conflito que acaba envolvendo homofobia e, até mesmo, direitos humanos. Apesar da recepção mista, o longa conseguiu emplacar uma série de debates importantes e temas dos quais seriam replicados em outros países, como foi o caso do filme japonês HIS, de 2020, que trouxe uma abordagem parecida, porém, com aspectos técnicos mais assertivos.
Com a chegada das adaptações BLs na Tailândia em 2013, muita coisa mudou. O tom comercial característico desse tipo de drama, fez com que muitos enredos passassem a priorizar a leveza no desenvolvimento de histórias a fim de cativar um público cada vez maior. Isso ficou ainda mais evidente em 2016, quando a série Sotus atingiu o mainstream e consolidou os BLs como principal meio de representação homoafetiva na mídia tailandesa.
E por mais que a entonação acessível e divertida seja muitas vezes um dos melhores aspectos desse tipo de obra, os dramas mais centralizados na questão social e política, quase não existiam, e quando existiam, a superficialidade da qual essas questões eram tratadas, mais atrapalhavam o debate do que ajudavam.
Felizmente, dada a necessidade de contemplar a comunidade LGBT com algo que fizesse verdadeiramente sentido, dramas que vieram antes de Not Me, como Dark Blue Kiss de 2018, abriu espaço para um novo momento: a representatividade mais incisiva. Embora as referências fossem sutilmente desenvolvidas, trazer a discriminação e a problemática de se assumir homossexual para seus pais, foi realmente um grande passo.
Not Me se destaca ao tocar em questões políticas
Desde então, a Tailândia se tornou o principal país a tocar nos assuntos políticos e sociais em dramas BLs. Os destaques mais recentes, I Told Sunset About You e 1000stars, remontam a necessidade de criar debates nas entrelinhas de um romance convencional dentro do mercado boyslove.
A autoaceitação e a desigualdade social abordados nesses dramas, acabaram tornando ambas as obras verdadeiros tópicos de discussão, seja dentro ou fora das redes sociais. A coisa fica ainda mais séria, se levarmos em consideração o impacto que I Told Sunset About You teve em países como a China, onde a questão LGBT enfrenta diversas problemáticas.
Um pouco distante de todos os destaques sobre questões políticas e sociais na Tailândia, o recente BL Not Me, se mostra um verdadeiro ponto fora da curva. Acontece que embora muitos dramas tenham trazido reflexões e provocado debates, nada soa parecido com o que vemos sendo feito agora com a exibição deste drama.
Not Me baseia-se na dualidade de um roteiro bem desenvolvido para explorar a vida dos seus personagens e, ao mesmo tempo, trazer à tona diversos problemas sociais, isso sem qualquer censura ou limitação. Da meritocracia, passando pelo capacitismo, corrupção e capitalismo tardio, o enredo ainda arruma espaço para discutir bastante sobre política e orgulho LGBT.
Tudo, obviamente, de uma forma como nunca vimos antes em qualquer produção tailandesa. Certamente, continuando assim, Not Me tem tudo para ser um dos dramas mais importantes dos últimos anos, seja por estar causando uma verdadeira revolução ao trazer uma adaptação de forma arriscada, ou por consolidar a Tailândia como principal polo exportador de BLs com temáticas sociais e políticas.
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