China volta a exibir dramas BL

A censura moderna aos dramas chineses, além dos BLs e aqueles com temática LGBTQ+, tomou forma por volta de 2016, quando o país aprovou a chamada Lei de Promoção da Indústria Cinematográfica que, segundo os 60 artigos existentes, se aplicaria à escrita de roteiros, filmagem, distribuição, projeção e outras atividades cinematográficas dentro do território chinês.

Apesar de ampla, a Lei dizia claramente que qualquer obra submetida ao departamento de cinema do Conselho do Estado, cuja qual envolvesse questões de segurança nacional, diplomacia, religião etc. seria submetida à censura.

Vale lembrar que a interpretação dessa norma se deu de forma diferenciada em diversas províncias da China Continental e das regiões especiais, como Hong Kong. Inclusive, esse não é um código específico contra a comunidade LGBTQ+, visto que no grande país asiático relações desse tipo não configuram crime desde 1997.

Imagem: Reprodução/Internet

Caso Addicted

De certa forma, a Lei foi vista com olhares positivos, já que antes dela a censura acontecia, muitas vezes, tardiamente, quando uma série ou filme já havia estreado. Exemplo é o caso do BL Addicted/Heroin, banido por representar algumas problemáticas que acabaram influenciando negativamente o olhar dos chineses em relação à produção BL.

Na época, a série foi condenada por representar “comportamento anormal sexual” e “romance entre menores de idade”, além de outros tabus.

Depois disso, dramas dos gêneros wuxia e xianxia também passariam a sofrer censura, uma vez que a religião na China também possui restrições públicas. Os chineses entendem, com base no materialismo de Karl Marx, que religião é o ópio do povo. É inegável que esses gêneros, embora inofensivos para nós, se baseiam em alguns preceitos filosóficos que podem ser vistos como religiosos.

Caso Word of Honor

É aí que entram as limitações aos clássicos como The Untamed e, mais recentemente, Word of Honor.

E se depois de Addicted, fora das diversas polêmicas entre as fanbases, os BLs eram vistos com um pesar negativo, com Word of Honor essa situação se agravou devido às polêmicas envolvendo o ator Zhehan Zhang — extremamente criticado após ter tirado fotos em templos que prestam homenagem aos soldados japoneses e líderes de guerra acusados de crimes violentos em decorrência da ocupação colonial na China e Coreia do Sul.

Após esse acontecimento, os BLs, mesmo os mais limitados possíveis, foram proibidos de vez.

Imagem: Tencent

Mudanças incertas

Hoje, porém, discute-se a volta dos dramas BL chineses, depois de muito tempo banidos, por dois motivos aparentes:

  • Nova direção do departamento de censura, agora, comandado por um nome mais flexível;
  • As metas de soft power – conceito que os governos usam para atrair relações internacionais com base na cultura, assim como o Japão faz com os animes e a Coreia do Sul com o k-pop – debatidas no último congresso do Partido Comunista Chinês, que ocorreu ano passado.

Embora os rumores apontem para um futuro promissor no que diz respeito aos BLs com características chinesas, as limitações e as incertezas ainda são constantes. Os fãs, com razão, temem que muitas histórias possam ser alteradas ou até sofrer cortes bruscos. Ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa, mas seguimos acompanhando essa saga que desperta interesse em todos espectadores e fãs de dramas asiáticos.

Matheus José

Graduando em Letras. Crítico, colunista e redator nos sites Jornal 140, VIUU, Suco de Mangá. Editor e supervisor de textos. Já passou por publicações da BoysLove Hub e China Word Notes.

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