Tin Tem Jai

Tin Tem Jai entregou um roteiro vago e quase zero desenvolvimento dos arcos

Tin Tem Jai é adaptação da novel de mesmo nome do autor Taohuu. A história, que foi transmitida internacionalmente pela plataforma iQIYI, se desenvolve através de Tin, que tem uma paixão nada secreta pelo amigo de infância, Park, em que por meio de investidas ele tenta conquistar o coração frio do rapaz. A série era aguardada pelo público devido ao enredo simples e romântico que foi proposto inicialmente. 

Tim Tem Jai
Imagem: MFlow/iQIYI

Roteiro lento e confuso

O roteirista, Run Kantheephop, tinha a faca e o queijo nas mãos para fazer um bom trabalho, isso, caso o desenvolvimento tivesse sido bem explorado, o que não aconteceu. O roteiro é extremamente lento, nada na história principal e secundária se desenvolve para algo envolvente. Durante os 10 longos episódios, vários conflitos surgem, mas para nenhum é apresentado alguma solução ou mudança de arco.

Run Kantheephop já é conhecido na indústria BL por viver papéis em TharnType e Second Chance, ele também foi roteirista da série Ai Long Nhai. E em Tin Tem Jai ele interpreta Park, ao lado de Tiger Aekapol, que faz o papel do Tin. É perceptível que faltou uma relação mais próxima entre os atores, a ausência da química romântica enfatiza as problemáticas da história.

Tin tem uma obsessão por Park, enquanto Park ignora isso durante a maior parte da metade da série. A justificativa entregue no final é rasa demais, não entregando sentimentos substanciais ao telespectador que esperava algo mais profundo com o decorrer dos episódios. O elenco infantil também se mostra um problema à parte. São várias crianças cuja presença delas não influencia em nada no enredo, e mesmo assim elas aparecem e desaparecem constantemente nos episódios sem nenhum motivo.

O casal secundário, Pao e Khana (Long Lee e Tong Surawit), conseguem entregar muito mais química e envolvimento do que o casal principal, porém, seu desenvolvimento é interrompido sem justificativas plausíveis, deixando o telespectador sem uma conclusão sobre a história deles, que serviu mais como um alívio no roteiro de Tin Tem Jai, afundado em um clima intensamente monótono o tempo todo. 

Tim Tem Jai
Imagem: MFlow/iQIYI

Dois pontos que deveriam ser explorados, porém passou quase em branco

Questões de gênero e sexualidade entram na discussão do texto, porém, não são abordadas em Tin Tem Jai como deveriam. Que o Tin é assumidamente gay fica óbvio durante toda a série, entretanto, a transexualidade, que também surge no roteiro como um assunto sensível, não é caracterizada com nenhuma consideração a fim de chegar a uma conclusão necessária.

A personagem Pai, interpretada pela miss Tailândia Yoshi Rinrada Thurapan, uma mulher trans, traz a falsa aceitação da família, o medo de permanecer em ambientes conhecidos e a dor dos estereótipos rotulados em mulheres trans. Pai é claramente aceita pelos amigos, exceto pelos seus pais, que a expulsa de casa em um ato de transfobia.

Quando eles dizem que ela pode ser o que quiser, contando que seja uma boa pessoa, Pai entende que um pequeno erro pode ser desencadeado para críticas, não pelo erro em si, mas pelo fato de ser uma mulher trans. O fardo da personagem é saber que terá que sempre provar ser boa e capaz, para que só assim, consiga de fato ser aceita pelos seus familiares. Essas lacunas ficam abertas, e mesmo que no final ela tenha superado o medo de permanecer perto dos pais, não se entrega uma conclusão sobre a aceitação deles perante o gênero da filha.

Pao e Khana também dispõem de outro assunto delicado: o uso de substâncias ilícitas como meio de escape da pressão social. Phao é um cara certinho que é frequentemente usado de exemplo como uma pessoa de boa perspectiva de futuro, diferente de Khana.

A pressão de ser sempre o cara perfeito, faz com que Pao tome atitudes inesperadas, uma dessas resultou em uma overdose. A questão é que, mesmo diante de um assunto que renderia um excelente debate, a série acaba resumindo tudo a um mero pedido de desculpas e a simples promessa de que aquela situação toda não irá se repetir novamente.

Tin Tem Jai
Imagem: Reprodução/CH3

Conclusão

Nada do que Tin Tem Jai prometeu foi entregue, muitos assuntos importantes não foram explorados e muitos outros que são desnecessários entraram em cena. A transfobia dos pais de Pai, os sentimentos de Park, os problemas familiares de Khana e a obsessão de Tin por Park e muitos outros temas tiveram tempo para serem evoluídos, mas que se resumiu em: chá de bolhas e crianças aprendendo a desenhar. 

Entretanto, apesar do roteiro ser lento, a produção conseguiu ser aceitável, com uma fotografia típica sem muitas brincadeiras de cor e transição. Tin Tem Jai teria se tornado uma série padrão tailandesa, portanto, se tivesse conseguido explorar as problemáticas dos arcos apresentados.

Ycla Araujo

Hi! Meu nome é Ycla e tenho 25 anos. Sou graduada em jornalismo e levo a fotografia como hobby. Amo literatura, doramas e o meu recorde é de 128.675 minutos ouvidos no Spotify.