I Feel You Linger In The Air

Reflexos Queer: A linguagem visual de “I Feel You Linger In The Air”

O universo audiovisual queer frequentemente se vale do simbolismo visual para aprofundar e enriquecer suas narrativas. A série Boys Love I Feel You Linger In The Air, adaptação em série da novel “Sweet Smell of Love” de VIOLET RAIN, é um exemplo notável dessa técnica.

A obra tem como protagonista um arquiteto chamado Jom que, após sofrer um acidente precipitado por uma desilusão amorosa, encontra-se submerso no Rio Ping. Ao imergir, ele se vê transportado para Chiang Mai em 1928, uma era onde a Tailândia (nessa época chamada de “Siam”) era governada por uma monarquia absolutista.

I Feel You Linger In The Air
Imagem: Reprodução / Youtube

Dentro desse cenário histórico, a série tece uma trama onde desejo, conformidade, passado e presente se entrelaçam, tudo sob a sombra das rígidas normas sociais da época. Vamos conhecer e discutir sobre o significado de cada elemento que dá vida à história de Khun Yai (interpretado por Bright Rapheephong) e seu mordomo Jom (interpretado por Nonkul Chanon)?

Espelhos

Os espelhos em I Feel You Linger In The Air são um elemento recorrente, e funcionam como a janela para a alma de cada um dos personagens dentro daquele ambiente heteronormativo. Eles capturam momentos de vulnerabilidade, autoconsciência e desejo.

Imagem: Reprodução / Youtube

Para Jom, o espelho é como um lembrete de sua transição entre dois mundos e tempos. Para Khun Yai, ele é uma representação de sua dualidade – o homem que ele é versus o papel que é esperado que ele desempenhe enquanto filho do dono da casa Palathip.

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Para o casal sáfico Ueang Phueang (interpretada por Alee Auttharinyae) e Maey (interpretada por Tian Atcharee), o espelho é uma testemunha silenciosa de um amor que não pode ser expresso abertamente, não apenas por ser homoafetivo, mas também por quebrar as normas hierárquicas da época em que a série se desenvolve.

O aroma do amor: a plumeria

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Imagem: Reprodução / Youtube

“Diferente do aroma de uma flor que não pode ser sentido para sempre (…) este aroma de amor te seguirá eternamente”, diz a canção “Plumeria” da banda COCKTAIL, que embala os momentos mais delicados da série. Não é novidade que o aroma embriagante das plumerias tem um papel importantíssimo na série; elas são símbolos de amor eterno, memória e conexão. Além de ser a flor e aroma favorito de Khun Yai, elas aparecem em momentos-chave, ligando os personagens e suas histórias passadas e presentes.

Água

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Imagem: Reprodução / Youtube

A água é um elemento de transformação em I Feel You Linger In The Air. Ela é o veículo que transporta Jom através do tempo, oferece momentos de intimidade entre os personagens e até mesmo serve como pano de fundo para um dos beijos mais icônicos da série; que foi banhado em gotas de chuva.

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Sombras e luz

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Imagem: Reprodução / Youtube

As sombras em I Feel You Linger In The Air são usadas para representar os desejos ocultos dos personagens. Elas são misteriosas, elusivas e, muitas vezes, reveladoras. Na cena onde Khun Yai e Jom entram no bar queer secreto, suas silhuetas são vistas refletidas nas cortinas vermelhas do local, que logo são abertas por Khun Yai, que traz a luz às sombras sem nenhum receio, evidenciando ainda mais o caráter defensivo e contestador do personagem.

Em outra cena igualmente marcante, Khun Yai e Jom dançam no jardim e são transportados à um mundo de imaginação, onde a heteronormatividade não está presente, e seus corpos se movimentam entre as luzes e sombras do salão luxuoso de festas, onde o seu amor é livre e celebrado, e não censurado.

Sentindo as cores

I Feel You Linger In The Air
Imagem: Reprodução / Youtube

A cinematografia de I Feel You Linger In The Air é um show à parte. As cores são usadas de uma forma estratégica para evocar emoções, definir atmosferas e destacar momentos importantes. Tons terrosos e quentes dominam as cenas diurnas, transmitindo uma sensação de nostalgia e serenidade, pintando um retrato do norte da Tailândia de 1928, com sua rica cultura e tradições.

Por outro lado, as cenas noturnas são banhadas em tons escuros de azul e verde-musgo, criando um contraste visual e emocional que reflete as emoções contidas e efervescentes dos personagens. Essa escolha de cores, além de ser esteticamente agradável, é o que carrega a fluidez de cada episódio da série, um banquete aos olhos e ao coração.

A delicadeza de I Feel You Linger In The Air

I Feel You Linger In The Air representa a potência do BL tailandês em usar elementos cinematográficos para contar uma história queer profunda e emocionante. Desde os espelhos que refletem dualidades internas dos personagens, até a paleta de cores que define o tom emocional da série, cada detalhe foi cuidadosamente esculpido e executado. A série não apenas conta uma história de amor queer em tempos de repressão, mas também celebra a rica tapeçaria cultural da Tailândia.

I Feel You Linger In The Air
Imagem: Reprodução / Youtube

Esta série é mais do que uma simples produção; é uma homenagem à beleza, à resistência e ao amor queer, que merece ser contado, celebrado e, acima de tudo, vivido. A obra dirigida por Tee Bundit certamente deixará sua marca não só como uma obra queer de extrema delicadeza, mas no panorama audiovisual tailandês como um todo. Porque, no fim das contas, todos merecemos nosso novelão das 18h.

I Feel You Linger In The Air
Imagem: YYDS Entertainment

À medida que I Feel You Linger In The Air se aproxima da reta final, os fãs tem várias opções para acompanhar esta obra-prima. A série está disponível em diversas plataformas, incluindo YOUKU, LineTV, Heavenly, Rakuten TV e GagaOOLala. E para aqueles que buscam uma experiência mais completa, a YYDS Entertainment disponibiliza uma versão sem cortes em seu canal oficial do YouTube. Se você ainda não mergulhou neste universo, está perdendo uma das narrativas queer mais envolventes e visualmente encantadoras da atualidade. E aí, que tal assistir?

Tobias Andrade

Estudante de Letras - Língua e Literatura Japonesa, apaixonado por obras LGBTQIA+ e no tempo livre, anda pelo mundo prestando atenção em cores que não sabe o nome, e analisando a homoeroticidade em todas as linguagens artísticas.