Há sempre, por parte do público, um certo imediatismo em eleger novos clássicos da indústria BL. Essa busca incessante por uma série tão superior a todas as outras acaba colocando uma responsabilidade imensa nos novos lançamentos.
The Eighth Sense, mesmo antes de sua estreia, já carregava o peso de ser uma obra-prima. Essa ansiedade das pessoas é, até certo ponto, compreensível, pois a indústria BL ainda é muito recente e segue em constante expansão. Assim, podemos entender o seguinte: todo BL que hoje tem uma qualidade irredutível há de ser ou será, no futuro, um clássico.
Nessa perspectiva, não podemos deixar The Eighth Sense de fora. A série de dez episódios opera como um trabalho inovador e apropriadamente disruptivo — em outras palavras, é um BL que anseia em ser chamado de clássico.
Como a história é contada
Inicialmente, chama a atenção o espaço de introspecção dos personagens. Apesar de narrar a história deles, são poucos os momentos em que estamos realmente imersos em suas vidas. Esse tipo de desenvolvimento, que parece nos afastar dos atores em tela, tende a despertar mais interesse por eles. A série já começa com Ji Hyun (Oh Jun Taek) longe do interior e Jae Won (Im Ji Sub) fora do exército — lugares mencionados o tempo todo, mas que nada mais são do que informações periféricas.
A utilização deste elemento narrativo não diminui, no entanto, a profundidade dos temas. Estes, que aqui estão bem delimitados. Enquanto Ji Hyun se sente disperso nas multidões e vastos edifícios de Seul; Jae Won, por sua vez, vê-se sufocado por aquelas mesmas multidões e por aqueles mesmos edifícios: o seu refúgio é na praia, no mar.
Praia e mar, aliás, que não haviam sido tão bem explorados em um BL coreano, uma lembrança geral do mesmo tratamento que I Told Sunset About You, de 2020, teve na Tailândia. Na verdade, esse é um paralelo interessante. Assim como a produção tailandesa, The Eighth Sense também traz um roteiro original, que não é adaptado de uma novel ou de um manhwa; traz elementos técnicos bem elaborados; traz performances engrandecedoras e, principalmente, uma perspicácia suficientemente própria.
Autossuficiência
É justamente essa vocação de manter-se autossuficiente, de querer percorrer apenas pelos seus objetos centrais, apesar de ter vários outros atores, que The Eighth Sense nunca se desvia de seu foco em retratar, com todos os aparatos da série, o casal principal e seus desdobramentos. É por isso que o desempenho de Im Ji Sub e Oh Jun Taek é tão importante. Eles são a engrenagem do BL e nenhum outro fator externo consegue impedi-los de fazer frente à história com as suas excelentes atuações — às vezes, nem mesmo os componentes extras da direção.
Veja, por exemplo, que na segunda metade do BL, quando os eventos traumáticos são retratados — via atores e via roteiro — a direção, meticulosamente assinada por Werner du Plessis e Inu Baek, custa apenas em alterar os sentidos veiculados pela montagem e edição. Desse modo, são adotadas cores escuras e tons de cinza, que expõem a complexidade das situações. O mar, azul e atraente em um dia de sol, torna-se escuro e asfixiante, assim como o tempo nublado que toma conta da tela.
Esse contorno tem como objetivo transmitir o emparelhamento do texto quanto a saúde mental dos personagens. A depressão, citada por Jae Won no último episódio, é um fato refletido com delicadeza — talvez, esse seja o primeiro BL coreano a ir fundo nessa questão.
BL de cinema
Tais flexões da produção, que andam de mãos dadas o tempo todo, revelam o cuidado da série em ser efetiva em sua proposta. São inúmeras as cenas construídas para impressionar, não por capricho ou vaidade dos diretores, mas pela sua razão de ser.
The Eighth Sense, ao contrário da maioria das séries BL sul-coreanas, em vez de ser transformado em filme após a exibição, foi inicialmente lançado como um filme. A cinematografia, especialmente pensada para se adaptar às salas de cinema, proporciona uma melhor experiência para quem assiste de casa.
A riqueza de detalhes, embora seja um pequeno aprimoramento, tende a se encaixar perfeitamente na trama. Observe, a história é bem simples: o amor de dois universitários que estão passando por um momento de mudança em suas respectivas vidas. O texto, com base nisso, se expande para uma minutagem maior em comparação com outros BLs coreanos.
Afinal, é clássico ou não?
Portanto, não há lacunas significativas no roteiro. Exceto aquelas que não somos contemplados intencionalmente, como espectadores. Assim, o fluxo dos acontecimentos e suas resoluções só é perceptível sob a ótica do que fere o arco principal.
É, de fato, um organismo muito bem construído. No final das contas, The Eighth Sense dá a impressão de querer eternizar seus melhores momentos, como o fato de dialogar com o público a partir de uma abordagem estilística ora acessível, ora intrincada — cenas submersas, quadros que dividem a tela com aquários e peças de decoração, tudo parece caminhar na mesma direção e na mesma intensidade.
E se houver alguma dúvida sobre The Eighth Sense ser ou não um BL clássico, além da ansiedade dos fãs, cabe à obra e a sua já citada autossuficiência responder isso. De nossa parte, cabe apenas contemplar e pontuar a maravilha que esta produção é. Afinal, obras como essas vão além de seu escopo para criar e estabelecer algo novo — e The Eighth Sense fez isso e muito mais.
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